quinta-feira, 18 de junho de 2020


Anexo  - 1 Ano
Recuperação para os alunos que não entregaram as atividades e a possibilidade de melhorar as notas dos alunos que já entregaram suas atividades

Revisão Geral  -  TRABALHO DE RECUPERAÇÃO (Diário de Bordo direcionado )
– Simule uma situação na qual você vai escrever uma carta ( e-mail) para uma pessoa querida que vive em um local completamente isolada e sem as notícias do que se passa no Brasil e no mundo. Tome a carta a Diogneto ou a música Meu Caro Amigo ( em anexo) como ponto de partida ou modelo inspirador do seu relato, destacando:  Enunciado: Meu Caro Amigo (ou Diogneto), vejo que te interessas em aprender sobre como vivem os brasileiros neste período de Pandemia e se questiona sobre seu modo de vida e religiosidade e como reagem:  A - O confinamento obrigatório,( A Pandemia, o que é é como começou.) // B -  Eleição presidencial no Brasil e Estados Unidos;( a situação política atual); // C- O desemprego as Novas Leis trabalhistas e previdenciárias; (o agravamento da crise social); // E – O Fechamento das escolas.

Meu caro amigo
Chico Buarque
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando, que também, sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É…


Escrita cerca do ano 120 d.C- A Carta de Diogneto foi escrita cerca do ano 120 d.C. Trata-se do testemunho escrito por um cristão anônimo respondendo à indagação de Diogneto, pagão culto, desejoso de conhecer melhor a nova religião que se espalhava com tanta rapidez pelas províncias do Império Romano.
CARTA A DIOGNETO
Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida. São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados. Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras. Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida. São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos, e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio. Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo. A alma invisível vela no corpo visível; Também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível. A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada, faz-lhe guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres. A alma ama a carne, que a odeia, e os seus membros; Também os cristãos amam os que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, é todavia ela que sustém o corpo; Também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal; Também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção nos céus. Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando. Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se


Anexo  - 2 Ano
Recuperação para os alunos que não entregaram as atividades e a possibilidade de melhorar as notas dos alunos que já entregaram suas atividades

Revisão Geral  - Diário de Bordo direcionado - Imagine uma situação hipotética onde uma pessoa volta de um Estado de coma profundo depois de 3 anos inconsciente (Exemplo Filme Adeus Lênin) quais seriam as impressões desta pessoa sobre:
A - O confinamento obrigatório,
B -  Eleição presidencial no Brasil e Estados Unidos;
C- O desemprego as Novas Leis trabalhistas e Previdenciárias;
D – A  degradação ambiental?
E – O Fechamento das escolas.
Desenvolva um texto ou grave o seu registro destacando: episódios e índice de adoecimento de populações das periferias das grande cidades; o home office feminino, a xenofobia etc
NOTA-  Assistir o filme não é obrigatório, CONFIGURA APENAS UMA PROVOCAÇÃO, UMA METÁFORA (UM ARTIFÍCIO) PARA CAUSAR UM ESTRANHAMENTO DO OLHAR SOCIOLÓGICO.
https://youtu.be/AqSVcsg5zrY?list=PLlYiJCoL-VQTFAjaX5kj0Z89NZcS4i9lh
O filme de 2003 - Adeus, Lênin! obra dirigida por Wolfgang Becker, retrata a história de uma família alemã sob o contexto da Guerra Fria e da divisão territorial da Alemanha em República Democrática Alemã (RDA) e República Federal da Alemanha (RFA).  Seguidos 10 anos de ativismo, Chris se depara com seu filho numa passeata em favor da liberdade de expressão sendo reprimido violentamente, o que deflagra nela um ataque cardíaco e a leva a um coma no qual permanece por 8 meses. Durante esse período, um dos acontecimentos mais marcantes da história mundial acontece em 1989: a queda do Muro de Berlim e a conseqüente e inevitável reunificação da Alemanha.Outras questões também se mostram relevantes ao longo da trama, como a mudança cultural pela qual os cidadãos da antiga RDA passaram. Além da transformação na própria vestimenta, a cultura de propaganda e incentivo ao consumo são percebidas pela inserção de cartazes em prédios, propagação da TV por satélite com seus canais ocidentais e comerciais e outdoors com anúncios nas ruas. Todos esses fatos passam a ser percebidos por Chris quando sai à rua pela primeira vez sem que seu filho. Por tudo isso, Adeus, Lênin! configura-se não só como uma crítica ao fato de que o socialismo, mas serve também como um mostruário das diferenças estruturais entre os dois momentos históricos, expressando sutilmente ao longo do filme as características econômicas e culturais.


TRABALHO DE RECUPERAÇÃO
ANEXO  3 ANO ENSINO MÉDIO

Redação: Tema provável de vestibular – a pandemia
Leia as músicas abaixo
Noticia de Jornal
Chico Buarque
Atentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João
Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jorna
Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal

O Dia Em Que a Terra Parou
Raul Seixas
Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
Com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não 'tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não 'tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não 'tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou, eh eh
No dia em que a Terra parou, oh oh oh
No dia em que a Terra parou
E nas…
Nada Será Como Antes
Milton Nascimento
Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
Num domingo qualquer, qualquer hora
Ventania em qualquer direção
Sei que nada será como antes amanhã
Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Sei que nada será como está
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

FAÇA UM ARTIGO DE JORNAL NOTICIANDO O FIM DA PANDEMIA
Algumas dicas importantes: A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente. Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata.
– A notícia tem como objetivo principal narrar acontecimentos pontuais, ou seja, fatos do cotidiano; Ela deve ser clara, concisa e objetiva. Na notícia, há predomínio do campo narrativo e é de extrema importância que ela traga informações sem juízo de valor e opiniões do escritor. Abaixo, alguns componentes da notícia: A-   Indicação de lugar e de momento (onde e quando); B  Indicação de modo (como); C  Indicação de algo (o quê); D * Indicação de pessoas envolvidas (quem); D  Indicação dos motivos (por quê).

É importante mostrar as partes que constituem este gênero. Veja:* Manchete ou título principal – composto de frases pequenas e atrativas, revelando o assunto principal que será retratado em seguida. Corpo da notícia – detalhamento maior dos fatos
1) Que fato aconteceu?
2) Com quem?
3) Quando aconteceu?
4) Onde aconteceu?
5) Como aconteceu o fato?
6) Por que aconteceu? (causas do fato)

quinta-feira, 7 de maio de 2020

A questão da Cidadania 2. Semana de Maio - 3.Colegial



Letras


'Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz, desconfiado
Tu 'tá aí admirado
Ou 'tá querendo roubar?
Meu domingo 'tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer
'Tá vendo aquele colégio, moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente
Pai, vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte?
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
'Tá vendo aquela igreja, moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Para o 3. Ano do Ensino Médio
Crise de 29


Franklin Delano Roosevelt assumiu o governo dos Estados Unidos quando a depressão de 1929 andava brava. A derrocada financeira foi enfrentada com o Emergency Bank Bill de 9 de março de 1933 e pelo Glass-Steagall Act de junho do mesmo ano. Esses dois instrumentos legais permitiram um maior controle do Federal Reserve sobre o sistema bancário. Roosevelt facilitou o refinanciamento dos débitos das empresas, sobretudo da imensa massa de dívidas dos agricultores, estrangulados pela queda de preços. O New Deal utilizou a Reconstruction Finance Corporation, criada por Hoover em janeiro de 1932, para promover a reestruturação do sistema bancário e financeiro. Roosevelt impôs a separação entre os bancos comerciais e de investimento, criou a garantia de depósitos bancários, proibiu o pagamento de juros sobre depósitos à vista e estabeleceu tetos no pagamento de juros para os depósitos a prazo (o Regulamento Q sobreviveu até 1965).
ASSISTA:
https://youtu.be/teDGZs34g_Y

Para o 3 Ano do Ensino Médio
Sobre Política e Jardinagem ~ Rubem Alves
De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’. No lugar desse ‘fazer’ o vocacionado quer ‘fazer amor’ com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.
‘Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.
Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.
O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.
Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.
Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.
Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.
Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: ‘Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade… Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem.’ Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.
Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.
Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?
Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.
Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.
Questões. 1. No que se difere a concepção política da Grécia antiga com a concepção judaica? Diferencie o Político jardineiro (que vive para a política) do Político Fisiológico ( que vive da política)?


O fim do mundo

 

A luta contra a fome e pela cidadania dava uma força danada àquele corpo magro, tomado por uma doença fatal, vírus que grudou num organismo com sangue frágil.  Os olhos azuis de Herbert de Souza, o Betinho, ganhavam brilho quando ele falava sobre a necessidade de os brasileiros terem consciência de que havia32 milhões de pessoas que passavam fome no país. Estávamos em dezembro de 1993 e eu, na época repórter da editoria Rio do jornal “O Globo”,  entrevistei o sociólogo, famoso Irmão do Henfil, que desde o início daquele ano vinha chacoalhando o mundo corporativo, os políticos e os cidadãos comuns, com uma campanha para acabar com a fome e a miséria no Brasil.
Quando Betinho se foi, um estudo elaborado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro divulgou um estudo baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 96 a 99. O estudo mostrava que se cada brasileiro fizesse uma contribuição mensal de R$ 10,4 daria para acabar com a fome no país que, à época, já atingia 50 milhões de pessoas.
 Betinho queria que a sociedade se mexesse, pressionasse os dirigentes – "Não é só entregando um quilo de alimento não perecível à porta do teatro que se muda uma situação de miséria. A pressão, a proposta, a criatividade, a mobilização e até a eleição, isso tudo vai ser esperado da sociedade". Sim, de alguma forma, ao eleger um torneiro mecânico para a presidência em 2002, a sociedade pareceu dar esse recado.
 Betinho analisou lucidamente também a relação da agricultura com a fome – "Na luta contra a miséria, a agricultura é fundamental. E a agricultura, a nível federal, não assumiu efetivamente esta questão como seu eixo"...  Se fosse vivo, o sociólogo teria ainda muito mais a reclamar do setor. Uma reportagem publicada hoje no jornal “Valor Econômico” esmiúça uma situação que já conhecemos de sobra, a respeito do poder da bancada ruralista no Congresso.  Deputados que apoiaram a não denúncia contra o presidente são, em sua grande maioria, empresários do agronegócio. E tudo o que querem é acabar com as exigências para licenciamentos ambientais a fim de poderem tocar projetos que vão impactar o meio ambiente muito mais do que já acontece.
 A preocupação de tais empresas, como também já foi largamente debatido por instituições que combatem a pobreza no mundo, é criar um esquema gigante para alimentar as 7 bilhões de pessoas do planeta. Para isso, contam com agrotóxicos em larga escala e, cada vez mais, distanciam o alimento da boca dos pobres. É como diz Ignacy Sachs, ecosocioeconomista francês no documentário “Zugzwang”, de Duto Sperry:
 "O problema não é a falta de alimento, mas a falta de dinheiro para comprar o alimento".
 Betinho faz falta. Ele dizia as coisas de maneira clara, trabalhava com o real.A ONG que criou, Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que durante algum tempo depois de sua morte, e no período dos governos de Lula e Dilma, fez um pequeno desvio na missão, hoje precisa novamente buscar a solidariedade das pessoas e recolher alimentos. Amanhã (12) vai ter um evento, "Ocup.Ação", cuja entrada será um quilo de alimento não perecível (o endereço é Rua Barão de Tefé 75, Centro do Rio). Os alimentos vão ser doados para os servidores do Estado que estão sem salário por culpa de improbidade administrativa.
 O cenário continua triste, meu caro Betinho. Que o botão vermelho do fim do mundo fique longe de nós osta está correta.
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fundou o Ibase em 1980 e, na década de 1990, tornou-se símbolo de cidadania no Brasil ao liderar a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida popularmente como a campanha contra a fome. Betinho mobilizou a sociedade brasileira para enfrentar a pobreza e as desigualdades. Hemofílico, morreu de Aids em 9 de agosto de 1997, deixando um exemplo de solidariedade e de luta pela transformação social.